14 de julho de 2010

Encontro discute avanços e impactos da desertificação no Ceará

Às vésperas da Segunda Conferência Internacional sobre Clima, Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável em Regiões Semiáridas (Icid 2010), que será realizada em agosto, em Fortaleza, a Fundação Centro de Ecologia e Integração Social (CIS) promove de 14 a 16 deste mês, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, o Encontro das Áreas em Processo de Desertificação do Norte Cearense. O evento será no auditório da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), que fica na cidade de Sobral.

O Encontro vai discutir o grau de degradação e o processo de desertificação com a sociedade civil, instituições públicas e acadêmicas. O objetivo também é estabelecer um compromisso com indicadores que possam conter o avanço e abrandar a problemática da desertificação no Ceará. A realização do evento é uma articulação da Fundação CIS, dos comitês das bacias hidrográficas de Acaraú, Coreaú e Litoral, do Ponto Focal Estadual de Combate à Desertificação e da coordenação da Icid+18, por meio da vice-governadoria do Estado.

Dentre os objetivos principais do Encontro das Áreas de Desertificação do Norte Cearense estão a discussão da problemática no Ceará, a partir do olhar dos indicadores que caracteriza Irauçuba como uma das áreas de risco. A aproximação dos Comitês das Bacias Hidrográficas (CBH) da discussão dessa degradação e os impactos aos recursos hídricos, além do conhecimento de experiências mitigadoras do processo de desertificação em outras áreas do Nordeste, também estão na pauta do evento.

A justificativa maior para a realização do Encontro são as atividades socioeconômicas que usam de forma irracional os recursos naturais do Bioma Caatinga no Nordeste brasileiro, em especial no Norte do Ceará, que apresenta uma diversidade florística resultante da variedade das condições fitoecológicas. Essas ações irregulares têm contribuído para mudanças das características originais do meio e também para aumentar o estado de degradação.

Em função desse alto nível de exploração da capacidade dos recursos naturais e não havendo o restabelecimento da região, a sustentabilidade, que já é baixa, diminui ainda mais. E os efeitos da degradação passam a adquirir características quase irreversíveis, ocasionando a devastação e o mau uso dos solos, além de índices negativos do balanço hídrico. O exemplo da problemática citada acima é o município de Irauçuba, a 140 km da capital e que tem 1.451 quilômetros quadrados. Destes, 1.381 estão no território do semi-árido. Ou seja, 92,2%.

Como se pode facilmente notar, o referido município se encontra com quase a área total suscetível à desertificação. O território de Irauçuba representa 10,2% da área do Ceará. De acordo com cálculos preliminares da Fiocruz e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o avanço do processo de degradação de Irauçuba está associado às mudanças climáticas. E isso pode provocar uma redução de 11,4% na taxa de crescimento da economia nordestina até 2050.

Ainda segundo o estudo, as mudanças climáticas tendem a aprofundar a desertificação a partir de pesquisas sobre o Índice de Vulnerabilidade de Desertificação (IVD). Por esse índice, os pesquisadores chegaram à conclusão que 1% do Nordeste está sob risco elevado de desertificação. E o Ceará lidera o topo da lista, junto com Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Bahia.

As práticas de intervenção do homem têm alterado os processos naturais, provocando desequilíbrios como a modificação do relevo a partir de diferentes formas de erosão, pobreza dos solos, vegetação e de condições hidrológicas, o que já causa o colapso de alguns recursos. Tal realidade é evidente por causa da modificação da paisagem. A degradação da terra ocorre pela degradação do solo, eliminação da camada fértil e ausência dos recursos hídricos. A junção dos dois fatores causa a degradação da biodiversidade com pobreza na vegetação e a diminuição da qualidade de vida da população. (Fonte: Rogério Ippoliti/ MMA)

Serviço Florestal mobiliza professores sobre manejo da Caatinga

Os estudos sobre manejo da vegetação da Caatinga ainda são recentes e para mobilizar mais pesquisadores a se engajar na produção de conhecimento sobre o tema o Serviço Florestal Brasileiro promove até o dia 16 de julho uma visita com 12 professores universitários dos cursos de Engenharia Florestal do Nordeste a locais onde a técnica é aplicada em caráter experimental.

O grupo irá a áreas de pesquisa nas cidades de Pacajús e Limoeiro do Norte, no Ceará, Mossoró e Serra Negra do Norte, no Rio Grande do Norte, e a Patos, na Paraíba. Em cada uma delas, o manejo assume características próprias, uma vez que a resposta da vegetação à técnica varia em função das espécies que lá existem, do solo e da topografia da região.

“A Caatinga não é uma vegetação uniforme em todo o semiárido, tem diferenças muito grandes dependendo de onde está e as universidades são parceiras importantes para gerar uma base de dados científica”, diz a engenheira florestal da Unidade Regional Nordeste do Serviço Florestal, Maria Auxiliadora Gariglio.

Maria Auxiliadora diz que o aumento da produção científica contribui para o aperfeiçoamento das normas sobre manejo. “O ciclo de corte no bioma era de 10 anos e mudou para 15 anos como resultado dos estudos da Rede de Manejo Florestal da Caatinga, que mostraram que esse período permitia uma melhor regeneração.” Parte das áreas que serão visitadas integram a Rede.

Lenha Sustentável - O manejo da Caatinga tem como principal produto a lenha, usada para a geração de energia em moradias e indústrias. O professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Paulo Rogério Soares de Oliveira, que participará da visita, diz que a técnica é fundamental para permitir sua produção sustentável.

“A lenha é, de fato, um recurso muito demandado. Se a gente não estiver fazendo estudos para ver como fazer esse manejo, a tendência é a redução da vegetação porque a demanda por esses produtos é muito grande”, afirma. O manejo, além permitir produção constante, tem balanço de emissão de carbono zero, porque o gás carbônico emitido na queima é absorvido quando a floresta cresce.

No Rio Grande do Norte, existem parcelas permanentes – unidades de amostra para observação contínua para conhecer o comportamento das espécies florestais e seus processos de crescimento – onde serão desenvolvidos estudos sobre manejo pela UFRN. Oliveira diz que a experiência da Rede de Manejo será útil para os acadêmicos. “É muito interessante para nós nos vincularmos com a Rede, pois há todo um conhecimento que foi feito nessas parcelas.” A atividade de pesquisa deve ter a participação de estudantes.

Maria Auxiliadora vê com bons olhos o interesse. “Queremos que a academia pesquise junto com a Rede a questão do manejo e que apresente projetos de pesquisa nessa temática para o CNPq e outros órgãos financiadores de pesquisa, e não somente em conservação e florestas plantadas, que estão mais consolidados”, diz. (Fonte: MMA)

6 de julho de 2010

Senado quer cerrado e caatinga como patrimônio nacional

O Senado incluiu na terça-feira (6) o cerrado e a caatinga entre os biomas considerados patrimônio nacional. Com a mudança, eles se equiparam à Floresta Amazônica e ao Pantanal que já são constitucionalmente considerados patrimônios do país – na tentativa de aumentar o rigor sobre o controle dos biomas para evitar a exploração indevida dos recursos naturais.

A PEC (Proposta de Emenda à Constituição) com a mudança segue agora para análise da Câmara.

Relator da proposta, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) disse que o texto conserta um “erro histórico” que excluiu os biomas da lista de patrimônios nacionais.

“Não podemos permanecer inertes frente à dilapidação do patrimônio natural representado por essas formações vegetais”, afirmou. (Fonte: Folha.com)